(*) Por João Eucides Prata Salgado
* O editor viajou para Goiana – PE a convite da Grupo FCA
Goiana – PE - O Grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA), considerado hoje um dos maiores grupos mundiais do setor automotivo (ele foi constituído em 13 de outubro de 2014 a partir da fusão global entre Fiat e Chrysler) acaba de inaugurar o seu primeiro polo automotivo em todo o mundo, durante um grandisoso evento que contou com a presença da imprensa especializada do setor, do CEO do Grupo FCA, Sergio Marchionne, do presidente da FCA para a América Latina, Cledorvino Belini, do vice-presidente mundial de Manufatura da FCA, Stefan Ketter e de John Elkann, Presidente da FCA, além de autoridades, políticos e da presidente da República. Trata-se da fábrica da Jeep na cidade de Goiana, no estado de Pernambuco, nordeste brasileiro, marcando a volta da produção do Jeep e terras brasileira, depois de mais de 30 anos.
O vice-presidente mundial de Manufatura da FCA, Stefan Ketter |
Este polo automotivo é um ativo valioso não apenas para a FCA. Ele representa um grande impulso para o desenvolvimento econômico e social da região em que está instalado, de Pernambuco e do próprio Nordeste. A indústria automobilística é um poderoso indutor de desenvolvimento. O setor e sua cadeia produtiva respondem por cerca de 5% do Produto Interno Bruto total do Brasil e por 23% do PIB industrial. É denominado “indústria de indústrias”, tal a sua capacidade de estruturar em seu entorno parques de empresas transformadoras de matérias-primas e produtoras de componentes vinculados a inúmeros setores da economia, abrangendo toda a escala de complexidade tecnológica. Os reflexos são mensuráveis. Estudo realizado pela consultoria Ceplan projeta que, em 2020, o Polo Automotivo Jeep vai contribuir com 6,5% do PIB de Pernambuco. Será uma curva ascendente, considerando que já em 2015, primeiro ano de operação, terá participação de 2,5% no conjunto de riquezas produzidas dentro do Estado. Essa geração de riquezas será feita predominantemente com o emprego de mão-de-obra local, o que significa que produzirá efeitos sociais positivos.
O presidente da FCA para a América Latina, C. Belini |
Esta fábrica está sendo considerada, como conferimos durante o evento de inauguração, a mais moderna fábrica do grupo no mundo pois, reune o que de melhor a Fiat e a Chrysler acumularam em suas histórias centenárias, representando neste momento o “estado-da-arte” em termos de produção automotiva e de gestão, incorporando desde sua concepção as melhores práticas orientadas para eficiência, qualidade e desempenho.
“Este foi também o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não somente uma fábrica de automóveis, mas de incluir em seu perímetro um parque de fornecedores de classe mundial, a fim de produzir veículos igualmente de classe mundial, sempre em sintonia e interação com os stakeholders”, afirma Stefan Ketter, vice-presidente mundial de Manufatura da FCA, que coordenou a implantação do Polo Automotivo Jeep.
O investimento total superou os R$ 7 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões na fábrica Jeep, R$ 2 bilhões no Parque de Fornecedores e o restante destinado a desenvolvimento de produtos e outros investimentos. A fábrica Jeep ocupa uma área construída de 260 mil metros quadrado, tem capacidade para produzir 250 mil veículos por ano, isto tudo graças aos 700 robôs; 650 na Funilaria, 40 na Pintura e 10 na Montagem; realmente uma fábrica de encher os olhos!
No perímetro fabril, ergue-se também o Parque de Fornecedores, um complexo de 12 edifícios, que abrigam 16 empresas responsáveis por 17 linhas de produtos. O Parque de Fornecedores ocupa uma área de 270 mil metros quadrados.
O empreendimento empregará até o final do ano mais de 9 mil trabalhadores, sendo 3,3 mil na planta Jeep, 4,9 mil no Parque de Fornecedores e 850 em serviços gerais. Deste contingente, 82% são nordestinos e 78% pernambucanos.
No âmbito da estratégia da FCA, a planta reforça a presença do grupo no Brasil, agregando ao seu portfólio produtos de uma marca forte e em expansão, além de possibilitar a entrada no segmento de SUVs, de grande potencial de crescimento. Também será essencial para que a FCA alcance suas metas de expandir aceleradamente a presença global da marca Jeep.
O Polo Automotivo Jeep é um ativo valioso não apenas para a FCA. Ele é, sobretudo, uma conquista do Brasil, do Nordeste, de Pernambuco. Um parque produtivo de classe mundial como este poderia estar instalado em qualquer parte do planeta. “O fato de ter fincado suas raízes em Goiana, na Zona da Mata Norte pernambucana, reflete o respeito da FCA à sua própria trajetória no País e seu compromisso com o desenvolvimento brasileiro”, destaca Cledorvino Belini, presidente da FCA para a América Latina.
O primeiro modelo produzido no polo é o Jeep Renegade. A primeira unidade destinada ao mercado deixou a linha de montagem no dia 19 de fevereiro de 2015. As vendas, através da rede própria de 120 concessionárias, começaram na última semana. O Jeep Renegade chega ao mercado para reinventar o segmento dos utilitários-esportivos, tornando-se a nova referência, e também expande a linha de veículos da marca, entrando no segmento dos SUVs compactos de caráter mais urbano, mantendo-se fiel à capacidade 4×4 e ao estilo de vida aventureiro pelos quais a Jeep é conhecida.
Os diferenciais de uma fábrica moderna
O Polo Automotivo Jeep é a unidade mais moderna da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no mundo, por reunir em um único sítio as 15 mil melhores práticas, processos e tecnologias acumuladas pelo grupo. A maioria das soluções implantadas na fábrica podem já ter sido utilizadas em outros estabelecimentos, mas o que efetivamente distingue esta planta é a combinação de todas as tecnologias inovadoras em um mesmo processo produtivo. O sistema de produção WCM – World Class Manufacturing – assegura a melhor interação entre homem e máquina, melhorando continuamente todos os processos.
As duas linhas de prensas Komatsu instaladas na fábrica são as mais avançadas tecnologicamente. São as mais velozes, com capacidade para 18 estampos por minuto, e, ao mesmo tempo, consomem menos energia. Seus motores elétricos permitem o movimento de pesos enormes com precisão de décimos de milímetro. Esta precisão preserva a integridade da chapa e a qualidade do estampo.
A funilaria conta com a principal inovação da planta: uma estação com 18 robôs, capaz de aplicar 100 pontos de solda em 60 segundos, congelando a geometria da carroceria em uma única etapa. Normalmente, a fixação das partes e consolidação da carroceria é feita em várias estações. O movimento entre uma estação e outra pode comprometer a precisão da geometria, dando origem a futuros problemas, como encaixe imperfeito de componentes ou ruídos. A Comau, empresa de automação industrial da FCA, desenvolveu a estação de robôs, cuja configuração confere flexibilidade à linha, que pode produzir até quatro modelos.
A pintura inovou ao adotar processo que dispensa a camada de primer, em processo denominado primerless. O processo assegura a qualidade final do veículo e a durabilidade da pintura, mas resulta em menor consumo de energia e em menos emissões na atmosfera.
Na montagem destaca-se a concepção da linha a partir da melhor ergonomia, que poupa os trabalhadores de esforços físicos e de movimentos desconfortáveis. Também na montagem, a acoplagem do powertrain com o carro é uma parte fundamental e crítica. É feita automaticamente: o conjunto de powertrain vem por uma linha no nível do piso e a carroceria vem por linha aérea. Em determinado ponto, os dois conjuntos são conectados automaticamente. A automação garante repetibilidade da operação, assegurando total conformidade.
Outra inovação do projeto é o Communication Center, cérebro do Polo Automotivo Jeep. Com aproximadamente 11 mil metros quadrados de área construída, está localizado no centro da fábrica Jeep e é onde estão concentrados os resultados físicos de cada etapa de produção. É possível, a partir dessa área central, percorrer a pé os pontos essenciais de todos os processos de produção, desde a área de prensas até os veículos prontos para entrega ao consumidor na etapa final da unidade de montagem. O resultado de tal configuração é uma tomada de decisão rápida, uma organização eficiente da planta e o aumento no conhecimento do negócio. No interior do Communication Center, quatro áreas atuam em sinergia com esses conceitos: Centro de Componentes, Centro de Processos, Centro de Veículos e escritórios abertos.
Nacionalização de conteúdo é estratégica para Jeep
O Jeep Renegade, primeiro carro produzido no Polo Automotivo Jeep, sai da linha de produção e chega às concessionárias de todo o País com um índice de nacionalização de mais de 70%. A expectativa de tornar o veículo o mais brasileiro possível, no entanto, é ainda mais ousada. Nos próximos meses, o índice de deve superar a casa dos 80%, percentual que vai repetir-se também nos demais veículos a serem fabricados em Pernambuco. A alta nacionalização é um fato notável, pois o índice alcançado é muito superior ao que se observa de modo geral em fábricas em início de produção. Iniciar o projeto com alta nacionalização de componentes é decorrência de uma decisão estratégica do grupo.
Um projeto para transformação de vidas
Paralelamente à construção do Polo Automotivo Jeep, outro grande desafio foi vencido: atrair, organizar, contratar e treinar a mão-de-obra necessária em uma região sem tradição industrial, estruturando equipes para construir o polo industrial e, posteriormente, para operá-lo. “Encaramos esse desafio como uma oportunidade. Nosso objetivo primário era compreender a realidade local e os desafios que projetos dessa magnitude poderiam apresentar. Para isso, vários colegas de RH da América Latina se envolveram e se juntaram aos admitidos em Pernambuco e aos principais gestores locais. Juntos, agrupamos várias competências”, explica Adauto Duarte, diretor de Recursos Humanos para o Polo Automotivo Jeep.
Meio ambiente
Práticas avançadas do sistema de gestão ambiental também foram adotadas. A Jeep trabalha na perspectiva de reciclar 100% de seus resíduos sólidos, dentro no programa Aterro Zero, e de recircular e reusar 98% da água utilizada no processo industrial. O projeto de biodiversidade Nosso Verde é baseado em estudo inédito para resgate histórico da flora da Zona da Mata Norte. Ao todo, foram inventariadas mais de 600 espécies nativas e, já no início do projeto de paisagismo, foram selecionadas cerca de 250 espécies diferentes, que estão sendo plantadas no entorno da fábrica.
Na vertente do bem-estar, o Polo Automotivo Jeep contribui para melhorar a saúde da população do entorno, através da construção de uma Unidade de Pronto Atendimento Especializado (UPAE), em Goiana, para ampliar a oferta de atendimento médico em diversas especialidades e pequenas cirurgias. Preventivamente, os trabalhadores do Polo Automotivo de Pernambuco participam de programas de conscientização nas áreas de alimentação e saúde com foco na prevenção de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Os restaurantes do polo oferecem alimentação diversificada e balanceada, como parte do programa.
Pernambuco possui uma infinidade de manifestações culturais próprias e, para valorizá-las, foram desenvolvidos projetos culturais, como o Sentidos Culturais Jeep, para que artistas populares da Zona da Mata Norte consigam expandir a divulgação de seus trabalhos.
Os restaurantes da fábrica e o Communication Center (na recepção e nos escritórios), receberão trabalhos de artistas pernambucanos ou radicados no Estado. Além disso, uma plataforma digital está sendo elaborada, com o intuito de salvaguardar e possibilitar a difusão de conteúdo sobre manifestações culturais espalhadas em toda a Zona da Mata do Estado e em seus arredores.